Contribuições da Educação Física escolar e dos
esportes
Ubiratan
Silva Alves
A
Educação Física no Brasil ainda sofre resquícios de um entendimento que a tinha
como “[...] elemento de extrema importância para forjar aquele indivíduo forte,
saudável [...]” (Castellani Filho, 1988, p. 39) quando observamos alguns locais
de prática de atividade física onde o praticante pretende efetivamente ficar
“mais forte” ou “aumentar seu tamanho”, talvez como intuito de surpreender o
grupo em que está inserido, ou apenas se destacar entre indivíduos.
Infelizmente, alguns destes praticantes se utilizam meios extremamente
inadequados para que possam atingir o “tamanho” desejado num curto período de
tempo, muitas vezes com a conivência e com a interferência de um profissional
da Educação Física.
Podemos
supor que estes acontecimentos, via de regra, ocorrem em locais fora da escola,
até por que grande parte das escolas (principalmente as públicas) não oferece
espaços para uma prática de atividade regular que atinja os gostos e anseios de
todos os seus alunos. Este pode ser um dos principais fatores que leva os
alunos buscar locais alternativos para prática, como, por exemplo, as
academias, escolinhas de esporte, clubes, entre outros espaços que oferecem
ginásticas, treinamentos, trabalhos com aparelhos ou piscinas que poucas
escolas têm condição de ter e de manter, tendo, como consequência direta, um
esvaziamento das aulas regulares de Educação Física.
De
acordo com Borges (1998), estas evidências têm suas raízes nos anos 70 e vêm
crescendo suas forças nas últimas duas décadas com a inserção do paradigma de
saúde e aptidão física, bem como da ampla divulgação via mídia de modismos das
diferentes práticas, o que ampliou os espaços de intervenção fora da escola.
Da
mesma maneira que os planos de saúde entram na nossa sociedade pela falta de
condições médicas oferecidas pelos órgãos públicos, e que os cursos
pré-vestibulares surgem para suprir a carência deixada pela formação e
preparação do aluno no ensino médio para o ensino superior, acreditamos que as
academias e as escolinhas de esportes vêm preencher uma lacuna deixada pela
escola no que tange ao oferecimento de práticas de atividades físicas adequadas
para nossa população. Conforme aponta Godoy (1995), este contexto explicita o
distanciamento que a escola faz da comunidade e, como consequência, afasta o
aluno do contexto educacional.
Assentimos
a Cortella (2004, p. 16) na emergência que a escola tem em se atentar para a
escolha de seus conteúdos, tornando-os sempre atualizados e com aderência, a
fim de que “[...] possibilitem aos alunos uma compreensão de sua própria
realidade e seu fortalecimento como cidadãos, de modo a serem capazes de
transformá-la na direção dos interesses da maioria social”.
As
aulas de Educação Física escolar vêm perdendo sua essência por vários motivos,
inclusive com certa cumplicidade dos educadores que atuam, visto que os
problemas parecem entrar num “círculo vicioso” sem volta que se inicia quando o
professor percebe a cada ano que não consegue atingir os objetivos propostos
pela disciplina. Posteriormente, o professor se depara com alunos
indisciplinados, desinteressados pelas suas propostas e arredios às mudanças
que porventura o docente tente apresentar.
Ainda
neste círculo, ele sofre certa discriminação, às vezes velada, às vezes
explícita, por parte dos dirigentes e colegas que o impedem de fazer inovações
e ainda inviabilizam materiais, espaços, entre outros componentes desta rede.
Soma-se a este círculo uma certa acomodação diante do quadro salarial, que, em
princípio, não se altera perante sua atuação, seja ele ousado ou tímido,
empreendedor ou reprodutor, “arcaico” ou “moderno”, “esportivista” ou
“alternativo”.
O
quadro apresentado por este círculo se torna muito triste e o professor, muitas
vezes, se entrega e não mais consegue buscar forças para desenvolver seu
trabalho nem sair desta situação. A comunidade diretamente envolvida no
processo (professores, escola, pais e alunos) passa a encarar o fato como algo normal,
e tudo fica girando neste círculo: “o salário é ruim, meus alunos não querem
nada, a escola não me apoia, eu não tenho condições de espaço e material,
portanto a aula será deste jeito”.
Quando
se chega a esta situação, o professor realmente entrega os planos e praticamente
deixa que os alunos façam o que quiserem, como quiserem, quando quiserem e o
que é pior: se quiserem “não fazer nada”, também é permitido. Sendo assim,
nesta ocorrência, a aula de Educação Física escolar passa a ser concebida
apenas para parte do grupo, o que em termos educacionais é extremamente
inaceitável.
Para referendar uma
posição em relação à Educação Física escolar, endossamos as referências de
Piccolo (1995, p. 12), quando aponta que: “A Educação Física escolar deve
objetivar o desenvolvimento global de cada aluno, procurando formá-lo como
indivíduo participante; deve visar à integração deste aluno como ser
independente, criativo e capaz, uma pessoa verdadeiramente crítica e
consciente, adequada à sociedade em que vive; mas esse objetivo deve ser atingido
através de um trabalho também consciente do educador, que precisa ter uma visão
aberta às mudanças necessárias do processo educacional.”
Atividade para o 1º ano - Educação
Física
Responda
em seu caderno, baseado no texto:
1º) O
autor do texto sugere uma possibilidade de explicação para o fenômenos de
surgimentos da escolinhas de futebol. Identifique-o.
2º) O texto aponta, em relação à Educação Física
escolar, qual deve ser seu objetivo. Identifique-o.
3º) O
autor cita que “praticantes se utilizam
meios extremamente inadequados para que possam atingir o ‘tamanho’ desejado num
curto período de tempo, muitas vezes com a conivência e com a interferência de
um profissional da Educação Física”. De acordo com seus conhecimentos, quais
são os meios inadequados e quais os riscos de sua utilização?
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